sexta-feira, junho 15, 2007

Anotações


ATA

Caros colegas, fiz algumas anotações, que talvez possam ajudar na reflexão. Anotações são sempre incompletas, pois ouvir é seletivo. Sequem aqui algumas:

Os enunciados do processo artístico:

“Todos os nossos juízos, todas as frases, ou “ pinceladas”, que pronunciamos, ou as idéias que emitimos são expressões de nossos estados vitais- a emanação da vida em nós que correspondem ao estilo, ou filosofia inata e adquirida de cada um , que irão refletir neste fazer artístico, no que procuramos como prioridade para alimentar nossa alma, quando vamos a exposições, teatros, museus, ou lemos o jornal do dia, estamos desta forma alimentando este fazer.

Interpretamos os fatos com essa carga de “enunciados”. A arte nos leva, portanto, a tarefa da “redenção”, que vão animar e se revelar “neste fazer presente”, neste fazer já, no aqui – agora., que vão corresponder a verdade objetiva na sua reflexão mais profunda.
O existir do artista que são corpo e sensibilidade, mas que também comporta a sua “desconstrução”, ou seja, pela refutação dos erros, das ilusões, das falsas opiniões, desconfiando do tema, por ser artifício, saindo da sedução que o paraliza. Desconstruir o já visto, hierarquizando essas forças.

Entre a pintura e o fazer há o expectador – e esse espaço torna-se o “ sagrado” da experiência como porvir, ao produzir o deslocamento da experiência na ilusão.

A pintura desta forma deve ser entendida como processo e não como artifício”.

Refletir o porquê de algumas obras, se tornarem “ universais”, na suas estruturas de verdades mais profundas e essenciais, em oposição ao “passageiro”, ao estilo do consumo descartável.
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sexta-feira, maio 25, 2007

Anotações



Sobre nossa reunião de ontem 23/05/07, estou enviando algumas anotações realizadas por Suely, e complementadas por mim. Espero que ajudem na elaboração do texto:

Começamos refletindo sobre: “ O trabalho como acontecimento”.
Delicadeza, espanto, estupefação?
Falando sobre o brilho da luz incidindo sobre o objeto ( no caso a escova desenhada pelo Márcio ) esse brilho tinha um peso que a escova não podia suportar. A luz nesse caso seria o elemento de triangulação. É a circunstância que se faz ver no particular. É aí que o humano se faz.
A imagem é uma armadilha à Arte.
No sentido metafísico: trabalhar à distância, como observador. Questionar: que instrumentos Cézanne nos deixou ?
Pergunta: ( Jana ) a ilustração não tem espessura?
Res. o acontecimento é o atrito que você faz na superfície. É saber em que planos a imagem se faz.
Deixar um enunciado poético na relação do enunciado como provocador deste sonhar ( écran ) é a urdidura, é o tecido do sonho. Está no “entre” isso é que se chama poesia.
A circunstância tem que ser criada.
A contaminação de cor, luz, faz o artista olhar o que é circunstância e o que é essencial.
É o exercício do olhar. Isso se chama espessura ( a espessura é o sensível ) Na música também existe essa singularidade em mostrar a sutileza.
A grande crise na Arte é uma crise de espiritualidade nesse nível.
O desenho também é o espaço.

A escrita que o artista escreve é testemunha do que está fundamentada na experiência de um artista na sua singularidade. O ser do ente- o que é essência – no limiar do pensamento, com aquilo que se coloca no mundo.

A finalização é importante para se fazer obra.
A imagem traz o instante da surpresa e a questão do esquecimento.
Tudo é abstração. Descobrir o significado do objeto para o espírito e não para o funcional.
O artista tem que deslocar esse olhar e a Arte se faz, quando aquilo se faz como acontecimento. Aquilo que se mostra, se revela no esquecimento. O tempo todo você tem que produzir no outro um encantamento.
É um urdir entre o pensar e o sentir, como trama onde o resultado é o Écran ( o que se teceu do sonho)

Humanizar o que se vê – esse é o gesto artístico – sentir na operação deste fazer, e não ficar no simbólico, mas no ato deste fazer.

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sexta-feira, abril 13, 2007

Heidegger (1889-1976)

Filosofia Contemporânea


A questão do ser
Identidade e diferença
Presença, abertura e verdade em Heidegger
Heidegger- a historicidade da existência
A fenomenologia heideggeriana em "Ser e Tempo"



Heidegger - a historicidade da existência
(Machado de Oliveira, Cristina G.)
Temos em “Ser e Tempo”, a obra que eterniza o pensamento de Heidegger, pois, nela o filósofo faz uma revisão da metafísica e da questão ontológica, abordando toda a história da filosofia, buscando uma verdadeira reconstrução do problema e, talvez, sua possível resposta, como ele próprio falou:

“Caso a questão do ser deva adquirir a transparência de sua própria história, é necessário, então que se abale a rigidez e o endurecimento de uma tradição petrificada e se removam os entulhos acumulados. Entendemos essa tarefa como destruição do acervo da antiga ontologia, legado pela tradição”.[1]

Esse caminho escolhido por Heidegger se revela como uma estratégia para organizar a pergunta fundamental de sua filosofia, porque toda consideração da realidade, daquilo que é, exige uma prévia consideração de qual é o “sentido do ser”, para que se possa chegar à “questão privilegiada”, questão do ser:

“Deve-se colocar a questão do sentido do ser. Tratando-se de uma ou até da questão fundamental, seu questionamento necessita, portanto, de uma transparência conveniente. Por isso é preciso que se discuta brevemente o que pertence a um questionamento para então, a partir daí, se poder mostrar a questão do ser como uma questão privilegiada.”[2]

Deste modo, podemos perceber que Heidegger procura demonstrar no bojo de sua obra, que a pergunta fundamental (sobre o sentido do ser) sempre esteve presente na filosofia desde os gregos, porém, segundo o filósofo, tal questão caiu no esquecimento, vejamos:

“Embora nosso tempo se arrogue o progresso de afirmar novamente a ‘metafísica’, a questão aqui evocada caiu no esquecimento (...). A questão referida não é, na verdade, uma questão qualquer. Foi ela que deu fôlego às pesquisas de Platão e Aristóteles para depois emudecer como questão temática de uma real investigação. O que ambos conquistaram manteve-se, em muitas distorções e ‘recauchutagens”, até à Lógica de Hegel.”[3]

Apesar de ter sido trivializada, como o próprio autor diz (Vide o Parágrafo 1º de “Ser e Tempo”, p. 27), porque a tradição equivocou-se, pensando que a questão já estaria respondida, mas Heidegger revela o inverso. O que ocorreu foi uma verdadeira inadequação da linguagem em relação à questão. Sendo necessário afirmar as fronteiras entre o “ser” e o “ente”, entre o “ontológico” e o “ôntico”.

A partir deste aspecto, Heidegger procura explicitar a pergunta sobre o sentido do ser, usando um ente que possa clarificar o problema.
Desse modo, aplicado ao problema do ser, o método fenomenológico utilizado por Heidegger leva-o a colocar como ponto de partida de sua reflexão aquele ser que se dá a conhecer imediatamente, ou seja, o próprio homem.

“A existência humana não é um simples fato: ela articula, no próprio ato da sua manifestação, a questão do ser. Existir, é habitar estaticamente na verdade do Ser. Pensar, é descobrir reflexivamente o caminho do Ser: não significa, originariamente, compreender algo, mas compreender que se está já situado.”[4]

Portanto a questão fundamental da filosofia não é o homem mas sim o ser, não só do homem como de todas as coisas. Uma filosofia que colocasse o homem como centro de preocupação seria antes uma antropologia. Heidegger afirma que a questão que lhe preocupa não é a existência do homem e sim a questão do ser em seu conjunto e enquanto tal.

Logo, um dos objetivos básicos de sua obra Ser e Tempo é investigar o sentido do ser. Para efetuar tal tarefa, começou investigando o ser que nós próprios somos.
Porém, Heidegger em sua obra O que é isto – filosofia?, mais especificamente em Identidade e Diferença, desloca-se da problemática imediata da existência humana, que o ocupou em Ser e Tempo, e dirige todas as suas reflexões para o próprio ser. Trata-se de tal forma que não é a existência humana o acesso de entrada para o ser, mas é este mesmo que torna possível a abertura para a compreensão da existência humana. O traço marcante dessas reflexões ontológicas é constituído pela penetração cada vez maior no universo da linguagem, que passa a ser o horizonte no qual se poderia divisar o ser.
O ser do “segundo” Heidegger é uma espécie de iluminação da linguagem; não da linguagem científica, que constitui a realidade para aproveitar-se dela, mas um ser que habita antes a linguagem poética e criadora, na qual se pode comemorá-lo, isto é, lembrá-lo conjuntamente, a fim de que não se cair no esquecimento. O ser não é apresentado como ente algum, nem o princípio dos entes, nem o fundo da realidade. Não é também algo inefável, pois é aquilo que torna possível a linguagem, sendo o responsável pelo homem falar sobre as coisas. Não sendo ente algum, nem princípio dos entes, o ser, de certa forma, identifica-se com o nada, mas apesar disso, ele é. O ser é um mistério, no sentido de que não pode ser compreendido através de nenhum ente. O pensar essencial seria o pensar que “joga” com o ser e se reflete nele, fazendo-o, ao mesmo tempo, surgir.


Assim, em Heidegger, ao conceber o ser como forma e presença objetiva acabamos por tornar impossível o devir e a história, ou seja, a existência histórica do homem. Para salvaguardar a historicidade da existência – esta é a tese de Heidegger – não se deve entender, portanto, o ser como aquilo que é comum a todos os entes, mas como diferença de todo o ente. Enquanto diferença do ente Heidegger chama precisamente “diferença ontológica” à diferença entre o ser e o ente – o ser é o outro do ente, ou seja, não-ente e neste sentido é o nada, mas não como nihil absolutum (nada absoluto) e sim como “transcendência” em relação ao ente.

Desse modo, podemos dizer que a metafísica é um pensamento de identidade e a ontologia heideggeriana uma meditação da diferença, isso fica explícito no fragmento heideggeriano a seguir:

“... O ser é determinado a partir de uma identidade, como um traço desta identidade. Pelo contrário, a identidade, mais tarde pensada na metafísica, é representada como um traço do ser. Portanto, não podemos querer determinar a partir da identidade representada metafisicamente aquela que Parmênides nomeia...”[5].

O ser da ontologia metafísica preenche os espaços para os quais se pode dirigir a existência no seu “projetar-se” e, portanto, impede o devir, enquanto presença objetiva, tal ser subordina a si e acaba por absorver em si o futuro. Heidegger salienta que de Parmênides a Hegel e mesmo até o próprio Nietzsche, a metafísica define o ser como “presença” (no sentido em que se diz que num lugar “ está presente” um objeto) ou seja, como aquilo que, em vez de ex-sistere subsiste, in-siste, se dá como forma e é visível e pode, portanto, ser encontrado e de algum modo apreendido – algo, portanto de objetivo.
Concebido como presença objetiva, o ser cristaliza e anula o devir histórico. Pelo contrário, enquanto o ser é entendido, com Heidegger, como “nada” – como o nada em que consiste o surgimento do ente – o ser assegura o futuro ao ente e, acima de tudo, aquele ente que é a existência o homem, garante a possibilidade de futuro e, portanto, do devir.

Heidegger esclarece do modo mais nítido possível que a existência do homem enquanto poder ser que decide acerca de si mesmo e que se escolhe a si próprio apenas é possível como compreensão do ser. Esta compreensão do ser é o transportar-se para além do ente abrindo o livre campo de jogo do ser onde os entes se tornam patentes e onde a existência do homem pode projetar e ser existência histórica em devir.
Sendo assim, o pensamento da identidade põe o ser numa relação imediata com a consciência. É assim que a presença se degrada transformando-se num objeto que a linguagem apreende.
Podemos perceber que a pergunta principal de Heidegger é: qual é o sentido do ser?Em sua obra Identidade e Diferença ele indaga: “... que significa ser?...”[6] Desse modo, ele substitui a pergunta dos filósofos clássicos – o que é o ser? Pois, para ele, essa ficou indevida por estar clara e evidente.

Não se pode definir o homem em relação a ele mesmo: ele não é um sujeito isolado, pois antes de pensar e mesmo de falar, vive em relação com as coisas, com os outros e com o mundo.
Esta presença fundamental, cujo conhecimento é uma das expressões privilegiadas, não é exclusivamente um fato verificável, mas um acontecimento vivido. O homem é um sendo acontecendo, isto significa que em cada instante ele se manifesta no ser.
Entretanto, Heidegger nos recorda o caráter pré-dado da existência, pois para ele o homem não se liga à imagem do mundo como uma coisa integrada numa totalidade: ele descobre-se sempre enraizado no já-aí cujo horizonte é o mundo.
Há entre o ser e o mundo uma diferença irredutível uma vez que o homem é capaz de interrogar sobre a realidade e de englobá-la. A isso Heidegger conceitua de compreensão, esta se desenvolve antes de toda a tomada de consciência reflexiva, do mesmo modo que a situação se impõem antes da reação afetiva. A existência é um “meio-termo” caracterizado por um movimento perpétuo de vai-e-vem entre o pré-dado na situação e a realidade desvelada na compreensão. Isso fica explícito na passagem: “... O homem é propriamente esta relação de correspondência, e é somente isso. Somente não significa limitação, mas uma plenitude...” [7]

A existência, nesse sentido, não para de repor em questão, superando-a, a realidade que a determina, sem deixar, portanto, de existir nela. Segundo Heidegger, é o cuidado que abre ao homem o universo da presença. Definir a existência como cuidado é destruir a imagem clássica de um “cogito” isolado, recolhido sobre si. Graças ao cuidado o ser humano experimenta-se para além do já-aí. Neste horizonte da transcendência, interpretamos o homem como um ser-no-mundo, o homem descobre-se sempre como ser-com. Isso fica explicito quando Heidegger afirma: “... Na presença está em jogo o seu poder-ser-no-mundo e, com isso, a ocupação que descobre na circunvisão o ente intramundano... [8]”.


O ponto d
e partida necessário de toda tentativa por determinar, em seu rigor, o ser do ente em geral, é o homem como ser-aí ou Dasein, pois, de todos os entes, o homem é o único ao qual é funcionalmente exigida uma solução para o problema do existir.Assim, criando uma terminologia própria, Heidegger denomina o modo de ser do homem, nossa existência, com a palavra Dasein, cujo sentido é ser-aí, estar aí, histórico e situado, e por isso já é sempre um algo forjado nesta ou naquela situação. É o acontecimento que tem a forma do salto, do imediato, não tendo nenhum sujeito ou causa que sustente isso por trás. Nesse sentido ele é lançado, jogado no mundo, e por isso o vivente sempre já se fez, pois existe a co-pertinência entre homem e mundo, por isso não entendemos se o homem fez o mundo ou vice-versa, pois a junção disso é o próprio salto. E esse ser-no-mundo é o modo fundamental do homem, já que o ente nele mesmo é uma possibilidade de ser no mundo antes de todo e qualquer eu, porém já sempre situado e imerso no jogo sujeito/objeto, pois realidade se faz realidade nesse jogo.
É como Heidegger afirma:

“... O salto é a súbita penetração o âmbito a partir do qual o homem e ser, desde sempre atingiram juntos a sua essência, porque ambos foram reciprocamente entregues como propriedade a partir de um gesto que dá A penetração no âmbito desta entrega com propriedade dispõem e harmoniza a experiência do pensar...”[9].

Nesse sentido, Heidegger recusa-se a separar o ser do sendo, o sentido do dado: a aparente gratuidade do existente é precisamente o sinal da presença do ser no seio do mundo, o reflexo da transcendência do sentido. Não há, com efeito, qualquer possibilidade de conhecer o sendo fora da luz do ser. Segundo ele o verdadeiro mundo não é o da ação ou o da contemplação; é o da presença, ora, esta engloba o sendo no seu conjunto como o existente humano. Desse modo, não se pode definir o homem em relação a ele mesmo: ele não é um sujeito isolado que, tomando-se como objeto de reflexão, operaria uma reflexão do mundo. O ser humano existe em conaturalidade com os sendos circundantes que o investem, com efeito, não se trata mais do homem concebido primeiramente como um ser isolado e solto que tivesse de vir ao mundo para aí cumprir uma trajetória finita, mas, ao contrário, o ser-no-mundo é a condição fundamental do homem mesmo em sua humanidade. Ele irá chamar essa ontologia de hermenêutica, pois não ensina mais verdades, mas nos ensina como interpretar.

A existência, portanto, será um meio-termo, caracterizado por um movimento perpétuo de vai-e-vem entre o real pré-dado na situação e a realidade desvelada na compreensão. A transcendência é, segundo Heidegger, a expressão dessa dinâmica interior do ser. O que equivale a dizer que o modo humano de ser é interrogativo. A existência não para de repor em questão, superando-a, a realidade que a determina, sem deixar, portanto, de existir nela.
E o Dasein é o único que pergunta, é o único capaz de se questionar sobre o sentido do ser, questionar é ir à raiz, é procurar o ente naquilo que ele é e como ele é, por isso, Heidegger privilegia o Dasein porque ele é capaz de perguntar pelo sentido do ser. A grande questão na filosofia heideggeriana é o ente como questionador (Dasein). É a análise do ente, de seu modo de existir capaz de questionar, pois o objetivo é o ser do ente, é explicar o próprio ente.
O ser é o conceito mais universal de todos porque é o primeiro lançado em nossas cabeças, e por isso o mais evidente. Por ser o mais universal, isto é, o geral, não tem limitação, portanto é indefinível. Assim, o conceito de ser está acima, fora e transcendente ao gênero e a diferença específica, portanto, o conceito de ser transcende ao gênero e a espécie, desse modo, podemos definir o conceito de ser como o mais universal, indefinível e evidente por si mesmo. O sentido de ser é um arranjo das coisas de tal sorte que elas se revelam exatamente nesse contexto. É sempre o contexto das coisas que mostra o seu significado. Nada faz sentido sozinho, o ser humano ganha o seu sentido na história. O sentido do ser está dentro da progressão temporal, nesse sentido, nós sempre progredimos e evoluímos.Por isso, dentro da visão heideggeriana, “... o pensamento descobre, encarando o presente, além da situação do homem, a constelação de ser e homem, a partir daquilo que a ambos apropria numa comunidade, a partir do acontecimento-apropriação...”.[10]

Assim, a fenomenologia, numa visão heideggeriana, é um esforço de revelar aquilo que está oculto. Fazer filosofia é um processo de retirada do “véu de maia”. A estrutura da ocultação e da revelação se interligam e cabe ao filósofo trazer à claridade aquilo que está oculto. A estrutura vem à tona, mas a claridade nunca é total sempre há uma obscuridade, por isso a busca do sentido nunca chega ao fim, devido a isso sempre haverá filosofia, deste modo, podemos definir fenômeno como aquilo que se torna visível a si mesmo. Manifestar-se é o não se mostrar como é o caso da doença, nesta temos apenas os sintomas (uma aparência traz a carga de uma realidade), temos manifestações. De tal modo, a verdadeira realidade do fenômeno está oculta pelo sintoma.

Na perspectiva heideggeriana o homem preenche a possibilidade de ser com a cura (= ser já sempre ocupado de, com, no qual abarca todo o existencial) e aí nasce o homem, pois a cura é o lugar onde as coisas se dão, é o âmbito onde se dá compreensão de ser no modo próprio de ser, desse modo, o homem já é sempre numa determinação, sempre um sujeito, é um ente histórico inserido no mundo, nos valores. E ao se dar na abertura, o homem, quando se dá conta disso ele já é isso, mas ele também se projeta nisso, por isso é vir-a-ser.

A filosofia de Heidegger, nesse sentido, é circular, pois procura o sentido avançando e se desdobrando. Ele trabalha com o círculo hermenêutico e não com o sentido de causa.
O próprio Heráclito nos diz, à sua maneira, a presença universal do ser: a permanência do rio não existe senão pelo fluxo das águas. Também concorda com Parmênides: o movimento é idêntico a aparição do ser. Os pré-socráticos compreendem as coisas na sua raiz, na sua fonte. O universo da presença manifesta-se numa unidade harmoniosa que conjuga o devir e o ser. Ele não se revela sob um duplo aspecto, excluindo uma dicotomia que nos é familiar: a da representação das coisas e da linguagem. Nesse sentido, podemos nos referir ao pré- socrático Heráclito, pois sua doutrina fundamenta-se no movimento de todas as coisas, o ser identifica-se com sua manifestação, e só há manifestação para o homem. O encontro da questão do ser com a tese da existência, vai ser o ponto de partida de uma projeção mítica, pois Heidegger reconduz o assunto da questão do ser à aurora do pensamento ocidental. Os pré-socráticos: Parmênides, Heráclito, Anaximandro, primeiros pensadores, trouxeram uma perspectiva nova sobre o ser, isenta de pré-juízos.

Dentro dessa visão pré-socrática, Heidegger afirma que para aquele que se dispõem a fazer o caminho da verdade ela aparece, pois essa se revela para quem faz, porém o erro está em querer provar a verdade, pois esta estrutura não é objetiva nem subjetiva, mas é a evidencia da ação do fazer. Entendendo vida como ação, atividade, porque já é sempre interpretação, compreensão, e isso permite uma lida oportuna das coisas.

Verdade, desse modo, é o jogo integrador onde não temos objetos singulares, mas uma unidade que dá sentido ao todo.Desta maneira, a noção metafísica de verdade limita-se a estabelecer relações de identidade ou de conformidade entre os fenômenos observados, e ao fazer isto, negligencia o fenômeno original da aparição. Como é possível representar os objetos se não há um lugar onde possam ser iluminados? Ora, a verdade realiza-se bem mais no plano desta visão primordial do que no das visões particulares. Ver um objeto não é, primeiramente, descobri-lo, abri-lo a algo diferente dele? É no interior dessa abertura ontológica que toda a visão é possível. A abertura é o meio de onde surge a coisa.
A realidade aparece carregada de significações de que o espírito não percebe senão o esqueleto. O pano de fundo no qual este se desvela é o ser-no-mundo, mas também o mundo do ser.
A verdade é o desvelamento (a-letheia) que faz sair do ser do esquecimento.
Em suma, de acordo com a visão heideggeriana “... toda verdade é relativa ao ser da presença na medida em que seu modo de ser possui essencialmente o caráter da presença...”[11], analisando em linhas gerais este fragmento podemos dizer que se o homem compreende o mundo no interior da situação, é porque ele próprio está situado na compreensão do ser e, portanto, constituído Dasein, logo, existir é reconhecer este dom pelo qual estamos despertos para o ser. Desse modo, Heidegger ao descrever o fenômeno originário da verdade nos fala da estrutura de ação enquanto ser –no-mundo.

... Mais de dois mil anos precisou o pensamento para entender verdadeiramente uma relação tão simples como a mediação no seio da identidade. Podemos nós pensar que a penetração na origem essencial da identidade pelo pensamento se deixa realiza num dia? Precisamente, pelo fato de esta penetração exigir um salto, ela precisa de seu tempo, o tempo do pensamento, que é bem outro do que aquele do cálculo que hoje em dia, por toda parte, mantém tenso nosso pensamento...”[12]

Assim podemos perceber que a historicidade como livre “jogo” do devir do ente a quem se permitiu existir para além de toda a organização é precisamente a posição de Heidegger.
Esta compreensão de Heidegger, mostra que a pre-sença é um projeto, com todos as implicações que o termo importa e, ainda, que o “projeto” parece ser uma espécie de guia ulterior, que está sempre sujeito a modificações e desenvolvimento, sendo essencialmente um esboço das suas possibilidades.
No que diz respeito ao projeto enquanto compreensão, parece que ela possui a totalidade dos significados que constituem o mundo antes de encontrar as coisas individuais, mas isto ocorre porque a pre-sença é, constitutivamente, poder-ser e, pode encontrar as coisas somente inserindo-as neste seu poder-ser, entendendo-as, portanto, como possibilidades abertas.

Na nossa possibilidade de encontrar o mundo, ou entrar em contato com um mundo que se revela, surge o conhecimento. Esse conhecimento não é um ir do sujeito ao objeto simplesmente presente, ou vice-versa.
Se a disposição é um aspecto constitutivo do estar aberto ao mundo, logo vem a constituir o modo mesmo em que as coisas são dadas aos seres humanos e, portanto, o modo em que elas são. Por outro lado, a disposição afetiva é algo que encontramos como o modo originário de captar e compreender o mundo, é aquilo que cada um de nós tem de mais próprio, de mais individual e mais transformador.
Há que se afirmar, porém, que apesar da pre-sença estar-lançada às suas próprias possibilidades, de início o seu modo de ser-no-mundo é o próprio-impessoal. Parece que Heidegger, diz aqui que o impessoal (do alemão “man” – alguém, a gente), ou seja, a não singularidade da pre-sença, é uma etapa pela qual ela passa para saber-se como possuidora de uma identidade que lhe é própria, mas que se relaciona permanentemente com o mundo ao seu redor (ser-junto e ser-com). Tendo sempre como direção “o poder-ser mais próprio”.
Deste modo para analisar o fundamento da pre-sença, não podemos fazê-lo mediante a uma reflexão isolada ou estanque, mas através de uma relação contínua do ser da pre-sença com tudo que o cerca, uma visão conjunta, um contemplar sobre o ser-no-mundo.

Ousadamente, Heidegger conceituará como condição à priori de possibilidade, isto é, como o estado de ser, o tempo, ou melhor dizendo, a temporalidade. Surpreendemos assim, nascidos no cerne do existir humano, o futuro, o passado e o presente, os três momentos fundamentais da temporalidade. O tempo é portanto o próprio homem conduzido à plena elucidação de seu mais íntimo ser.
À luz da analítica heideggeriana, o tempo deixa de ser algo exterior que nos sobreviria de fora para impor-nos sua lei, mutilar-nos se for preciso. O tempo é, na realidade, o homem mesmo como ser-no-mundo, entendendo o homem enquanto tolhido na facticidade e já possuído pela morte, mas igualmente homem na ultrapassagem gloriosa do projeto e na exaltação do impulso.
O porvir, enquanto dimensão interna da liberdade, constitui, poderíamos assim dizer, a parte divina de nossa natureza; aquela que, se viesse a preencher todo o espaço disponível, nos tornaria deuses.
Se o homem compreende o mundo no interior da situação, é porque ele próprio está situado na compreensão do Ser e, por isso, constituído Dasein.
Logo, existir é reconhecer este dom pelo qual estamos despertos para o Ser.
Assim, o sentido de ser é um arranjo das coisas de tal sorte que elas se revelam exatamente nesse contexto. É sempre o contexto das coisas que mostra o seu significado. Nada faz sentido sozinho, o ser humano ganha o seu sentido na história.

Bibliografia
BEAUFRET, Jean. Introdução às filosofias da existência. São Paulo: Livraria duas cidades, 1976.

DELACAMPAGNE, Christian. História da filosofia no Século XX; tradução, Lucy Magalhães; consultoria, Carlos Coutinho. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

GIORDANI, Mário Curtis. Iniciação ao existencialismo. Petrópolis: Vozes, 1997.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 1997.

_____________. Identidade e Diferença. Portugal: Livraria duas cidades, 1971.

JASPERS, Karl. Iniciação filosófica; tradução, Manuela Pinto dos Santos Lisboa: Guimarães, 1987.

RESWEBER, Jean-Paul. O pensamento de Martin Heidegger. Coimbra: Almedina, 1971
[1] HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo; tradução, Márcia de Sá Cavalcante. – Petrópolis: Vozes, 1995, p.51.
[2] Op.cit. p. 30.
[3] Op.cit. p. 27.
[4] RESWEBER, Jean-Paul. O pensamento de Martin Heidegger. Coimbra: Almedina, 1971. p.57.
[5] HEIDEGGER, H. Identidade e diferença. p.54
[6] Idem.. p..56.
[7] HEIDEGGER, H. Identidade e diferença. p. 57
[8] HEIDEGGER, Ser e tempo, §44, p. 297
[9] HEIDEGGER, H. Identidade e diferença. p.59.
[10] HEIDEGGER, H. Identidade e diferença. p.67.
[11] HEIDEGGER. Ser e Tempo. p.296
[12] HEIDEGGER, H. Identidade e diferença. p.68
Editado por filosofia virtual

Martin Heidegger

==Conceitos fundamentais==

É habitual dividir a produção filosófica de Heidegger em duas partes, uma até ao final da década de vinte, outra a partir daí. Por vezes considera-se também uma terceira anterior à produção de ''O [[Conceito de Tempo]]'' (conferência proferida em 1924, mas publicada apenas em 1983, em Francês). Assim é comum falar-se do ''primeiro'' ou do ''segundo'' Heidegger, conforme se faz referência às suas produções anteriores ou posteriores ao seu livro ''Da essência da Verdade'' (escrito em 1930, embora a publicação seja de 1943). [[Gianni Vattimo]] fala de três momentos da filosofia de Heidegger (ver ''Introdução a Heidegger'', Tradução João Gama, Instituto Piaget, 10ed., 1996).

A divisão da filosofia de Heidegger em momentos não é pacífica. Há quem recuse a divisão, defendendo a continuidade do seu pensamento.

===Dasein===Ainda assim, até ao final da década de trinta, a leitura da filosofia de Heidegger estrutura-se sobre conceitos como [[Dasein]], [[ser-no-mundo]], morte, [[angústia]] ou [[decisão]].
Como entroncamento central de toda a sua fenomenologia encontra-se o conceito de Jeweiligkeit: ser-a-cada-momento ou de-cada-vez (Respectividade). Esta noção é fundamental para se compreender a de Dasein, que não deve ser sem mais vertida para Ser humano, homem, nem mesmo para Realidade Humana (ver, a este respeito, ''A Carta sobre o Humanismo''- para mais pormenores sobre a difícil tarefa da tradução do termo veja-se o artigo correspondente, [[Dasein]]).
O horizonte de fundo de toda a sua investigação é o do sentido de Ser, os modos e as maneiras de enunciação e expressão de ser. Nesta medida o importante está em alcançar a colocação correcta da questão pelo sentido de ser. Assim, ele põe a claro a desvirtuação dessa investigação ao longo da tradição que sempre se prendeu a uma [[compreensão]] ôntica, dominada pelo ente, em vez de se dedicar adequadamente ao estudo do ser. Esta notificação deve indicar-nos que não apenas o ente é, mas que o ser tem modos: há modos de ser. E cada ente deve ser abordado a partir do modo adequado de o abordar, o que deve ser esclarecido a partir do modo de ser próprio do ente que em cada caso está em estudo.

O Dasein, pela sua especificidade, inicia qualquer interrogação. O Dasein é o ente que em cada caso propriamente questiona e investiga. É também o Dasein que detém a possibilidade de enunciar o ser, pois é ele que tem o poder da [[proposição]] em geral. Daí que na questão acerca do sentido de ser seja fundamental começar por abordar o ser deste ente particular. E tem que ser o próprio Dasein a fazer isso, tem que ser ele próprio a mostrá-lo, a partir duma análise fenomenológica esclarecida ([[hermenêutica]]).

===Neokantismo===Algumas obras de Heidegger revestem-se de inspiração kantiana, quer pelo método [[Criticismocrítico]] que os rege, quer pelos seus resultados, quer pela escolha dos temas. Regra geral considera-se que as obras anteriores a ''Ser e Tempo'' são de teor kantiano. Esta fase do seu pensamentos constitui para alguns estudiosos o primeiro momento da sua filosofia, marcado pela influência de [[Kant]] e pela pujânça fenomenológica. Apesar das reservas dos seguidores da sua metodologia, Heidegger tende a ser aproximado ao movimento existencialista. Esta fase é aquela que mais facilmente se relaciona com este movimento.
A tese de doutoramento sobre ''A teoria do juízo no psicologismo'' (1913), a tese de docência acerca d'''A doutrina das categorias e do significado em Duns Escoto'' (1916) e o tratado ''A História do Conceito de Tempo'', também conhecido como ''Conceito de Tempo em Historiografia'' (1914), são concensualmente aceites como (neo)kantianas. Estas obras, dentro de uma terminologia e temática próprias do Neokantismo, abordam problemas que o extravazam e já não podem ser resolvidas nas estritas fronteiras kantianas.
A [[facticidade]] da existência, que viria a fazer parte da terminologia de ''Ser e Tempo'', torna impraticável a posição de um sujeito do conhecimento como sujeito puro que se supõe na reflexão de tipo transcendental. A [[consciência]] implica uma temporalidade irredutível ao tempo físico, estritamente ''métrico'' ou cronológico. Esta temática torna-se o cerne da sua lição inaugural, na Faculdade de Teologia da Universidade de Marburgo, ''A História do Conceito de Tempo''.

===Husserl===Nos escritos de Husserl, na formulação conhecida até 1920, Heidegger podia encontrar já uma novidade radical relativamente ao Neokantismo. Este privilegiava a ciência e aspirava para a Filosofia uma linguagem igualmente rígida e estrita. Para Husserl, o acto de cognição resolvia-se na [[intuição]] eidética (''Anschauung''). O acto cognitivo não podia assim ser limitado ao conhecimento científico, pois trata-se dum encontrar as coisas. O ''ir às coisas elas mesmas'' husserliano ficou conhecido para sempre: trata-se dum encontro com as coisas em carne e osso. Esta concepção já não entende o fenómeno em oposição à coisa em si ou ao [[númeno]], mas como '''manifestação''' ''positiva'' da própria essência da coisa, por assim dizer (veja-se a este respeito H. G. Gadamer, ''Die phänomenologische Bewegung'' em ''Philosophisce Rundschau'' 1963, pp. 19-20). Esta posição saía da matriz neokantiana e dos limites do [[transcendentalismo]].

====Fenomenologia====Heidegger encontra na fenomenologia, na forma que tinha à época, nas obras de Husserl até então publicadas, um mundo em pleno desenvolvimento. Husserl afirmava que "''a Fenomenologia somos eu e Heidegger''".
A Fenomenologia recebe assim influência de Heidegger que lhe inculca alguns dos seus problemas e temas centrais, tais como a ''Lebenswelt''. A influência é, portanto, mútua. Nesta altura Heidegger recebe também vigorosas influências provenientes da segunda edição de Kierkegaard e de Dostoievski, ao mesmo tempo que vê surgir o interesse por Hegel e Schelling por todo o meio académico alemão.
As poesias de [[Rilke]] e de [[Trakl]] são outras fontes de inspiração. Nietzsche, influência e preocupação maior dos anos que vão de 1935 a 1943, está ainda, entre 1910 e 1916, longe do seu pensamento.
A esta altura Heidegger encontra-se principalmente ocupado na interpretação de [[Dilthey]] e Kierkegaard.
===Dilthey===Dilthey ocupará um lugar central em ''Ser e Tempo''. O pensamento dele e o do [[conde de Yorck]] têm o sentido de mostrar que a historicidade só se pode fundamentar se fundada numa recolocação do problema do ser. Em permanente diálogo com Duns Escoto começam-se a delinear em Heidegger as linhas mestras que haveriam de produzir ''Ser e Tempo'': o problema da historicidade é um problema da ''filosofia da vida''. São precisamente os fenómenos da historicidade e da vida que instam à recolocação do problema do ser.
Nesta envolvência instala-se essa preocupação fundamental com a dinâmica existencial. É nesta perspectiva que Kierkegaard adquire uma relevância importante.

===Kierkegaard===Para Heidegger, para os heideggereanos e, de facto, para a maior parte dos existencialistas, [[Kierkegaard]] é um pensador que enunciou explicitamente o problema da existência. Contudo, Heidegger considera que a colocação do problema não remanesceu existencialmente, mas que, pelo contrário, permaneceu geralmente a um nível existenciário ou ôntico.

A formação do pensamento que levaria ao ''Ser e Tempo'' encontraria ainda contributos de [[Paulo de TarsoSão Paulo]], de [[Lutero]] e de [[Calvino]]. No semestre de Inverno do ano escolar de 1919-1920, Heidegger profere um dissertação em jeito de discurso sobre os ''Fundamentos da mística medieval'' e, no ano seguinte, um de ''Introdução à fenomenologia da religião''.
No semestre de verão de 1921 surge um discurso intitulado ''S. Agostinho e o neoplatonismo''. Isto numa época em que as suas preocupações estão centradas na problemática da temporalidade com o estudo de Kierkegaard a fornecer-lhe novos horizontes, e Heidegger traçava novos planos teóricos rasgando com o esquema da ontologia clássica que o próprio Kierkegaard havia deixado intacto, bem como com a estrutura metafísica [[Helenismohelénica]] preservada pelo [[neoplatonismo]] e adoptada por [[Agostinho de HiponaAurélio Agostinho]].
Editando Heidegger

sábado, março 31, 2007

Nietzche


"Que parte de nós tende para a verdade"
As palavras são para Nietzche, sons sensíveis. O entendimento não se faz apenas pelo mero emprego de palavras. É necessário, segundo ele, buscar afinação. Como soam as frases? Elas vêm da garganta ou do ventre? E, depende do quanto nós, consciente ou inconscientemente, nos identificamos com esses sons. De como usamos nossos instrumentos e, a capacidade de escutar melodias que revelem nossa verdade.
Jugioli.

segunda-feira, março 12, 2007

Jean Baudrillard


"O que é a verdade?

- "Simulacros" - a percepção de tudo o que parece " realidade", mas da qual não podemos dizer onde está a diferença entre " representação" e " o que é representado"

Fotografia: Jean Baudrillard

sexta-feira, março 09, 2007

O princípio Ético

Arte poética


A poesia não me pede propriamente uma especialização, pois a sua arte é uma arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui como uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta.

Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala de uma vida real, mas sim duma vida concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas, respiração da noite, perfume da tília e do orégão.

É esta relação com o universo que define o poema com poema, como obra de criação poética. Quando há apenas relação com uma matéria há apenas artesanato.

É o artesanato que pede especialização, ciência, trabalho, tempo e uma estética. Todo poeta, todo o artista é artesão de uma linguagem. Mas o artesanato das artes poéticas não nasce de si mesmo, isto é, da relação com uma matéria, como nas artes artesanais.

O artesanato das artes poéticas nasce da própria poesia, à qual está consubstancialmente unido. Se um poeta diz: “obscuro”, “amplo”, “barco”. “ pedra” é porque estas palavras nomeiam a sua visão do mundo, a sua ligação com as coisas. Não foram escolhidas esteticamente pela sua beleza, foram escolhidas pela sua realidade, pela sua necessidade, pelo seu poder poético de estabelecer uma aliança. E é da obstinação sem tréguas que a poesia exige que nasce o “obstinado rigor” do poema.

O verso é denso, tenso como um arco, exactamente dito, porque os dias foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos.

O equilíbrio das palavras entre si é o equilíbrio dos momentos entre si. E no quadro sensível do poema vejo para onde vou, reconheço o meu caminho, o meu reino, a minha vida.

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Sophia de Mello Breyner Andresen

In: Geografia. Lisboa, Salamandra, 1990.
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A cultura do excesso

Hoje, quando ouvimos falar de modernidade, sabemos que o termo anda ultrapassado. Porque modernidade passou a ser símbolo de “hipomodernidade”, tema pesquisado pelo ensaísta Gilles Lipovestsky, ao dizer que a sociedade contemporânea vive a “cultura do excesso”; a cultura da inovação a todo custo; as mídias se tornando cada vez mais radicais, trazendo o sentimento paradoxal: “ – não basta ser moderno, é preciso ser mais moderno que a modernidade; é preciso ser mais jovem que o jovem; é preciso estar mais na moda que a própria moda...
Assim, tudo anda se tornando “hiper”: - hipermercado, hipercapitalismo, hipertexto, hiperclasse, hiperterorrismo e etc.... E, nas artes plásticas? Ela, que não foge dessa cultura do excesso como lei pragmática promovendo por seu lado as “hiperinstalações”, as hiperintensidades, os hiper delírios e as hipereuforias.

Sabemos que o grande problema desta “hipermodernidade” na arte, além da sua disfuncionabilidade, expõe a fragilização dos indivíduos, e a morte da arte em seus significados mais simbólicos. E, ao fabricar consumidores e observadores passivos, gera grandes déficits existenciais, que ao meu ver levam as experiências decaírem em em valor.

Será a prevalência do Tédio? Onde tudo precisa ser consumido na vaidade do hiper?


Jugioli